Resenha: A Abadia de Northanger, Jane Austen

Oi, meus amores! Este ano, eu estou participando da leitura coletiva dos seis romances de Jane Austen que está sendo organizada pela Berta do ig @leitoresestranhezas, e estou gostando muito. Hoje eu vim trazer a resenha do segundo livro, lido entre os meses de março e abril. Espero que gostem de saber mais sobre esta obra-prima da literatura mundial! ❤

Sinopse:

Escrito ainda na juventude de Jane Austen e publicado postumamente, em 1818, “A Abadia de Northanger” é, sem dúvida, um dos romances mais elaborados da época – uma comédia satírica que aborda questões humanas de maneira sutil, tendo como pano de fundo a cidade de Bath. O enredo gira em torno de Catherine Morland, que deixa a tranquila e, por vezes, tediosa vida na zona rural da Inglaterra para passar uma temporada na agitada e sofisticada Bath do final do século XVIII. Catherine é uma jovem ingênua, cheia de energia e leitora voraz de romances góticos. O livro faz uma espécie de paródia a esses romances, especialmente os escritos por Ann Radcliffe. Jane Austen faz um eloquente contraste entre realidade e imaginação, entre uma vida pacata e as situações sinistras e excitantes que os personagens de um romance podem viver.

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Avaliação: 🌟🌟🌟🌟

“A Abadia de Northanger” foi minha segunda experiência literária com a Jane Austen (a primeira foi “Orgulho e Preconceito”, já resenhado aqui), e achei um livro mais “fácil” e leve de ler do que o outro. Eu demorei a engrenar a leitura da história de Lizzie e Darcy, mas esta fluiu desde as primeiras páginas. No entanto, preciso dizer que “Orgulho e Preconceito” é infinitamente melhor. Este é um livro mais “bobinho”, e não falo isso para desmerecer a autora de forma alguma. Esse foi o charme da obra para mim.

A nossa mocinha, Catherine, é praticamente uma menina, com seus meros dezessete anos, e nunca saiu da cidade em que vive até o começo do livro, quando surge a oportunidade de viajar para a cosmopolita Bath com o casal mais rico da região, que não possui filhos (Jane Austen praticamente criou o ditado “Se Maomé não vai à Montanha, a Montanha vai a Maomé” aqui). Seu único conhecimento do mundo veio por meio dos romances góticos que ela tanto ama ler, sobretudo os de Ann Radcliffe. Inclusive, preparem-se para terminar a leitura com vontade de devorar “Os Mistérios de Udolpho”, de tanto que a Catherine fala dele, fazendo-o parecer o livro mais interessante do mundo.

Catherine é dona de uma imaginação fértil e inventiva, e adora criar aventuras em sua cabeça. Isso rende momentos muito divertidos e até alguns micos. Eu achei uma delícia explorar a Abadia de Northanger com ela, descobrindo seus caminhos e seus “segredos”, e vendo-a se decepcionar com o quanto a realidade é menos interessante do que o que se passa em sua mente.

Já o nosso mocinho, Henry Tilney, é um palhaço. No começo, eu até me incomodei com algumas falas machistas (é século XVIII, mas quem lê a Jane, sabe que não é do feitio dela esse tipo de coisa), mas isso apenas até perceber que não devia levar a sério nada do que ele diz. Gostei muito do personagem, é muito carismático e me cativou assim que “saquei qual era a dele”.

A irmã de Henry, Eleanor, também é uma fofa. Catherine e ela viram grandes amigas, e eu adorei vê-la ganhar seu próprio final feliz, digno de um conto de fadas.

E temos ainda John Thorpe, o personagem mais pedante que já existiu, capaz de fazer o Collins parecer simpático. O COLLINS! Isso nem é relevante, mas eu precisava desabafar. De verdade, eu revirava os olhos sempre que ele entrava em cena. É um saco!

O desfecho do livro me fez retirar uma estrela na avaliação. É muito, muito rápido. Sério, você pisca e “puf”, já acabou. Jane Austen podia ter estendido um pouco e explorado mais as tretas, assim como fez em “Orgulho e Preconceito”, em que tudo é explicado e desenvolvido com mais calma. A Catherine demora a chegar à Abadia, que é a parte mais interessante da história (não que a primeira metade tenha me entediado, mas a segunda é que faz a leitura valer a pena. Inclusive, não falarei sobre o começo do livro, nem sobre seus personagens, porque não consigo pensar em qualquer coisa, QUALQUER COISA mesmo que eu possa dizer sem dar um spoiler. É melhor lerem e verem por si mesmos o que acontece), mas depois as coisas acontecem muito depressa. E olha que o maior “problema”, ou melhor, o maior motivo de reclamação dos clássicos é que eles costumam ser lentos…

Agora, o que eu mais amei (e quando digo amei, é porque AMEI MUITO MESMO) em “A Abadia de Northanger” é a defesa que Jane Austen faz dos romances e que continua sendo verdade, em cada letra e em cada ponto, ainda hoje. Ela é muito maravilhosa, só lendo pra vocês entenderem:

“(…) e, se uma manhã chuvosa as privava de outros prazeres, ainda assim, resolutas, se encontravam, desafiando a umidade e a lama e se trancavam para ler romances juntas. Sim, romances, pois não adotarei este mau e insensato costume, tão comum entre escritores de romances, de degradar, pelas suas desprezíveis censuras, os próprios trabalhos; além disso, os daqueles aos quais eles mesmos se unem – juntando-se com seus maiores inimigos para conferir os mais duros epítetos a tais trabalhos, e quase nunca permitindo que sejam lidos pela sua própria heroína, a qual, se acidentalmente pegasse um romance, certamente fecharia suas páginas insípidas com desgosto. Ah! Se a heroína de um romance não for protegida pela heroína de outro, de quem poderia esperar proteção e consideração? Não posso aprovar isso. Deixemos aos críticos que abusem de tais efusões de imaginação o quanto quiserem, e que falem sobre cada novo romance, nas rotas melodias do lixo com o qual a imprensa agora se lamenta. Não abandonaremos umas às outras, somos um corpo ferido. Embora nossas produções tenham propiciado prazer mais amplo e verdadeiro do que aqueles de qualquer corporação literária no mundo, nenhum tipo de composição tem sido tão desprezado. Do orgulho, da ignorância ou da moda, nossos inimigos são tantos quanto os nossos leitores. E embora as habilidades do nongentésimo condensador da história da Inglaterra, ou do homem que coleta e publica em um volume algumas dúzias de linhas de Milton, Pope e Prior, com um jornal do ‘Spectator’, e um capítulo de Sterne, sejam elogiadas por mil penas, parece haver um desejo quase geral em desprezar a capacidade e em desvalorizar o trabalho do novelista, e diminuir os trabalhos que têm apenas um gênio, espírito e gosto para recomendá-los. ‘Não sou leitor de romances, raramente leio romances. Não imagine que leio romances com frequência. Isso é muito bom para um romance’. Tal é o dito comum. ‘E o que está lendo, senhorita…?’. ‘Oh! É apenas um romance!’, responde a jovem dama, enquanto deita seu livro com falsa indiferença ou vergonha momentânea. ‘É apenas Cecília, ou Camilla, ou Belinda’. Ou, em resumo, apenas algum trabalho no qual as maiores forças da mente são exibidas; um trabalho no qual o mais completo conhecimento da natureza humana, a mais feliz delineação de suas variedades, as mais vívidas efusões de gênio e humor são levadas ao mundo, na mais bem escolhida linguagem. Agora, tivesse a mesma jovem dama se entretido com um volume do ‘Spectator’, em vez de tal trabalho, quão orgulhosamente ela teria exibido o livro e dito seu nome, embora as chances devam ser nulas de que ela se ocupe com qualquer parte daquela publicação volumosa, da qual, tanto o conteúdo quanto o estilo não desagradariam uma jovem pessoa de bom gosto: a matéria de suas folhas, tão frequentemente tratando da declaração de improváveis circunstâncias, personagens irreais e tópicos de conversa que não atraem mais qualquer pessoa ainda viva, e sua linguagem, também, não raramente, tão rude quanto dar ideia nenhuma do tempo que esta poderia resistir.”

Falem se isso por si só já não faz as 261 páginas (na edição capa dura da Martin Claret, que foi a que eu li) valerem a pena?

Enfim, eu recomendo a leitura para quem gosta de romances mais “adolescentes”, porque é essa a palavra que me vem à cabeça quando penso em “A Abadia de Northanger”. Achei um livro leve, fofo e bom para tirar as preocupações da cabeça. Acredito que o intuito de Jane Austen tenha sido realmente transmitir as vivências e a visão de mundo de uma jovem de dezessete anos, portanto não esperem grandes reviravoltas (até tem uma, mas como eu disse anteriormente, não chega a ser explorada pra valer), nem exijam mais maturidade da Catherine do que a que ela de fato possui.

E aí, já conheciam esta história? Concordam com o que eu disse sobre ela ou têm uma opinião completamente diferente da minha? Contem-me tudo! E se não conheciam, me digam se gostaram de saber mais sobre o livro e se ficaram curiosos para ler.

Obrigada pela visita, beijos e até o próximo post! 😘😘😘

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4 comentários sobre “Resenha: A Abadia de Northanger, Jane Austen

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